quarta-feira, outubro 04, 2006

Previsões

Agora eu não duvido mais: o Rio Grande do Sul é realmente
o estado mais politizado do país. Além de ser o
mais culto, o mais sofisticado e o menos conservador. A
prova disso é a eleição de Paulo Borges como o mais votado
para a Assembléia Legislativa. Não poderia ser mais
adequado. Na sua biografia, há um verdadeiro feito político:
a apresentação da previsão do tempo num programa
de televisão. Trata-se de um revolucionário do PFL. Nem o
PCO chega a tanto. Borges mudou a forma de apresentar
o tempo. Inventou o besteirol meteorológico. Ninguém tem
mais credibilidade do que ele. O sujeito diz que vai chover
e chove. Isso mostra também a sabedoria e o alto de grau
de conscientização do eleitor gaúcho. Eu me orgulho cada
vez mais do Rio Grande. Como ser contra alguém que
anuncia a chegada da primavera? Como não recompensar
alguém cuja trajetória política se anuncia como um céu
de brigadeiro?
Eu sou louco por surpresas eleitorais e por erros de
pesquisa. Adoro quando as previsões estatísticas não funcionam.
Isso me faz crer que o Internacional ainda será
campeão brasileiro neste ano. Mas melhor ainda é ver todas
as previsões moralizadoras da mídia escorrerem pelo
ralo. Os comentaristas nunca acertam. Deviam se limitar
a falar do tempo. Se houve renovação na política, foi para
pior. Maluf, Clodovil e Collor são as principais novidades
no Congresso Nacional. Agora, vai! Enéas confirmou sua
presença essencial. Querem prova maior de que o eleitor
sabe votar? Seria justo deixar Paulo Maluf fora da época
mais corrupta da política brasileira? Claro que não. A Nação
perderia um grande especialista no assunto.
Os bandalhos do PT também tiveram contrato renovado,
entre eles João Paulo, José Genoino e Antonio Palocci.
O eleitor brasileiro não tem preconceitos ideológicos
nem delírios moralistas, exceto os de classe média. Nosso
lema é: se há corrupção, somos a favor. É tudo uma questão
de preço. Finalmente, o nosso eleitor aprendeu a lição
e passou a votar como fazem os empresários esclarecidos:
pragmaticamente. Por interesse. Sem cair em ilusões,
ideologias e promessas utópicas. Depois dessa eleição, temos
certeza de que não somos inferiores a ninguém. O
eleitor é o perfeito idiota universal. Essa é a sua suprema
forma de inteligência. É como o tempo: não tem erro.
Juremir Machado da Silva
juremir@correiodopovo.com.br
Publicado originalmente no Jornal Correio do Povo em 4 de outubro de 2006.

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