segunda-feira, março 19, 2007

Porque é dos insones que se sustentam os escritores...

O apanhador no campo de centeio. J.D. Salinger

Quando abri a porta, lá estava a prostituta. Vestia um casaco de pólo e não trazia chapéu. Era loura, mas via-se que pintava o cabelo. Não era velha.
- Como está? - perguntei eu, muito suave.
- É você o tipo que falou com o Maurice? - perguntou ela. Não parecia muito amistosa.
- Quem? O groom do elevador? - Sim - disse ela.
- Sim, sou eu. Entre, se faz favor. Sentia-me cada vez mais nervoso.
Ela entrou, despiu o casaco e atirou-o sobre a cama. Trazia um vestido verde. Depois sentou-se na cadeira que estava em frente da secretária e começou a abanar uma perna para cima e para baixo.
Para prostituta, também estava muito nervosa. Tinha talvez a minha idade. Sentei-me noutra cadeira, junto dela, e ofereci-lhe um cigarro.
- Não fumo - disse ela. Tinha uma voz fina e macia. Quase não a ouvi. Nunca agradeceu quando lhe ofereci qualquer coisa. Possivelmente não sabia agradecer.
- Permita-me que me apresente. Chamo-me Jim Steele - disse eu.
- Tem aí um relógio? - perguntou. Naturalmente o meu nome não a interessava. - Eh? Que idade tem? - Eu? Vinte e dois?
- Quem? Você?
As prostitutas não costumam falar assim. Uma prostituta a valer diria logo: "Tens mas é tanas !", ou: "Deixa-te de tretas!"
- E que idade tem você? - perguntei-lhe.
- Já tenho idade para ter juízo - respondeu ela. Depois levantou-se e começou a despir o vestido.
Senti umas coisas estranhas. Foi uma espécie de choque. Normalmente as pessoas ficam muito excitadas quando vêem uma mulher a despir-se, mas eu não fiquei. Sentia tudo menos excitação. Muito mais deprimido que excitado.

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